17/12/2012
Quebrando um mito - É rara de acontecer a transmissão sexual em casais
monogâmicos
A conceituada revista "Hepatology" publica
uma pesquisa sobre a transmissão sexual da hepatite C em casais, quando um dos
dois parceiros se encontra infectado com hepatite C.
Um total de 500
casais, nos quais um dos parceiros se encontrava infectado com hepatite C, foram
acompanhados durante oito anos, todos eles praticando sexo geralmente sem
camisinha, monogâmicos, declaradamentes sem praticar sexo com outras pessoas, a
não ser o parceiro único. Nenhum dos participantes estava infectado com
HIV/AIDS.
Os casais eram entrevistados para fatores de risco de
transmissão da hepatite C, praticas sexuais realizadas e compartilhamento de
itens pessoais de higiene. Todos foram testados para anticorpos (anti-HCV),
HCV/RNA (carga viral), genótipo e serotipo (o serotipo identifica a família do
vírus dentro do genótipo, uma espécie do DNA do vírus determinando pela
sequencia filogenética).
Estudos anteriores são controversos, mas todos
mostram que a transmissão sexual é rara, obtendo resultados entre zero e 5% em
casais heterossexuais estáveis, encontrado um risco maior em populações
infectadas com HIV/AIDS, indivíduos com múltiplos parceiros sexuais e homens que
fazem sexo com homens, pesquisas essas realizadas na década passada.
A
pesquisa publicada no "Hepatology" tentou determinar a real possibilidade de
transmissão sexual da hepatite C em casais heterossexuais monogâmicos
identificando especificamente os tipos de pratica sexual associadas a esse
risco. Os pacientes do estudo foram recrutados entre os anos de 2000 e 2003 no
norte da Califórnia, nos Estados Unidos. A analise incluía casais com relação
sexual entre 3 e 15 anos, resultando em uma média de oito anos de atividade
sexual ativa no total do grupo. Não foram incluídos usuários de drogas nem
pessoas com HIV/AIDS.
Resultados: - Dos 500 casais
participantes que no inicio do estudo o parceiro se encontrava indetectável, em
20 deles aconteceu um contagio com hepatite C, representando 4% do total de
casais;
- Analisado o genótipo, em 11 desses casos de infecção o
genótipo era diferente ao do parceiro, confirmando que a infecção não aconteceu
pelo parceiro. Somente em 9 casos o genótipo era o mesmo, o que presumia a
transmissão entre os parceiros em 1,8% dos participantes;
- Mas ao se
realizar o exame de serotipo foi encontrado que o genótipo existente era de uma
família diferente em seis desses infectados, restando somente 3 infectados nos
quais pode se assegurar que a transmissão aconteceu desde o parceiro,
representando somente 0,6% no total dos participantes do estudo.
- Com
base nesses resultados os pesquisadores concluíram que ao acompanhar um total de
8.377 pessoas/ano, a prevalência de infecção da hepatite C entre os parceiros
sexuais é no máximo de 1,2%, o que representa uma incidência máxima de
transmissão sexual de 0,07% ao ano, ou uma nova infecção a cada 190.000 contatos
sexuais.
- Além disso, a análise não conseguiu encontrar uma ligação
entre a transmissão da hepatite C com qualquer atividade sexual específica.
Esclarecem os autores que a transmissão sexual pode acontecer quando
fluidos do corpo infectados entram em contato com as mucosas, já que o vírus é
encontrado em todos os fluidos do corpo humano, mas geralmente os níveis são
pequenos e insuficientes para transmitir a doença. Um baixo nível de vírus no
esperma ou nas secreções vaginais pode ser razão pela qual o vírus da hepatite C
se transmite de forma menos eficiente que o vírus da AIDS ou da hepatite B.
Esclarecem, também, que os resultados são somente aplicáveis a casais
heterossexuais monogâmicos, sem HIV/AIDS. Pessoas com múltiplos parceiros
sexuais, HIV/AIDS positivos, gays, bissexuais e homens que fazem sexo com homens
estão em maior risco de infecção pela hepatite C. Não existem estudos realizados
em mulheres lesbianas.
MEU COMENTÁRIO Os
resultados da pesquisa fornecem excelente material para aconselhamento sobre
relações sexuais a casais heterossexuais monogâmicos, os quais devido ao baixo,
praticamente nulo risco de transmissão sexual da hepatite C, não precisam mudar
as praticas sexuais as quais estão acostumados. O conhecimento da rara
possibilidade de contagio nesses casais é reconfortante para continuar uma vida
afetiva sem sobressaltos ou sentimento de culpa.
Este
artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor,
tomando como base a seguinte fonte:
Sexual Transmission of HCV among
Monogamous Heterosexual Couples: the HCV Partners Study.- Terrault NA , Rodeio
JL, Murphy EL, Tavis JE, Kiss A, Levin TR, R Gish, Busch M, Reingold AL, Alter
MJ. - Hepatology (on-line). 2012 Nov 23. doi: 10.1002/hep.26164
Carlos Varaldo
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